13 de fevereiro de 2015

Capítulo 70

Luan Rafael

Eu me sentia mal por não poder estar perto de Ana neste momento tão delicado. Tentava passar forças mesmo de longe mas sabia que não era possível. Me preocupava em fazer coisas simples mas que eu soubesse que iria fazê-la sorrir, por isso postei uma foto nossa com uma legenda que eu achei que combinava com nós dois, e seu comentário me fez perceber que ela concordava.

Fui almoçar e depois voltei pro quarto para descansar mais um pouco. Estava no Rio de Janeiro mas nem podia sair do hotel. Então me contentei em ficar vendo filme sozinho. Como eu queria minha pequena ali comigo.

O tempo passou devagar mas logo fui me arrumar pra mais um show.

Dei várias entrevistas, tirei milhares de fotos mas meu pensamento continuava com Ana. Pensava se ela estava bem, se seu pai estava melhor, se ela estava sorrindo ou se estava com o coração angustiado. Se eu pudesse estaria com ele todos os dias, e daria o melhor de mim pra que ela fosse feliz o tempo todo. Eu daria tudo pra ver aqueles olhos castanhos brilharem todas as manhãs, ouvir aquela voz dizendo que me ama, sentir aquele perfume do qual eu nunca enjoo. 

Fiz o show com todo ânimo que consegui puxar do meu âmago, mas sem esquecer dela um minuto sequer, se assim o fizesse estaria traindo-a. Exagero ou não, me sinto assim. Se somos namorados, somos automaticamente ligados um ao outro, e deixar de pensar nela num momento tão difícil, pra mim, era traição. Ela precisava de no mínimo, meus pensamentos positivos.

Cheguei no hotel exausto. Entrei no elevador e me encostei na parede enquanto não chegava no meu andar. Well me olhava mas também não quis falar nada, de certo percebendo que eu preferia ficar calado, no meu canto.  Assim que entrei no quarto senti o cheiro de Ana. Na hora, me senti um louco. Mas não. Ela realmente estava ali, sentada na cama, mas com o olhar triste e super séria:


- Amor, que surpresa boa - sorri - O que houve?

-Eu vim até aqui porque não podia fazer o que vou fazer por telefone- falou rápido e eu senti um aperto no coração no mesmo instante.

-E o que veio fazer?- perguntei mesmo sem querer saber a resposta.

-Terminar com você.

-Mas.. como? O que eu fiz? - perguntei sem entender tentando me aproximar mas ela se levantou e se afastou de mim.

-É isso, chega pra mim.

- Mas por quê?- tentava entender mas mal conseguia raciocinar.

-Não consigo mais com isso, a gente mal se ver- falou sem me encarar e eu sabia que não era por isso que ela estava querendo terminar.

-Você não consegue mentir pra mim, eu sei que é por causa do seu pai- Ela negava e eu continuava tentando me aproximar, mas era em vão- A gente vai dar um jeito, ele vai acabar aceitando, não podemos desistir agora- falei nervoso e ela negou começando a chorar.

-Eu já desisti Luan, estou desistindo agora. Não dá mais.

-Não fala isso- a puxei pelo braço- A gente se ama, você disse que queria me fazer feliz, não faz isso comigo, não faz isso com a gente.

-Por favor Luan- ela se soltou- É melhor assim.

-Não é melhor coisa nenhuma, eu te amo, eu não quero terminar com você. Não desiste de mim Ana, não me deixa- pedia com o coração apertado.

-Acabou- ela falou saindo do quarto e eu nem forças tive pra ir atrás.

Sentei na cama me sentindo sem rumo, procurando uma solução, mas sabendo que por mais que eu movesse céus e terras não a convenceria do contrário, não por enquanto. Sabia que ela tinha terminado comigo por causa de seu pai, e não a culpava. Vê-lo debilitado após um acidente e saber que não estavam bem não deve mesmo ser fácil. Mas mesmo entendendo ela, sabia que tínhamos outra saída a não ser essa.

Não chorei, mas fiquei com aquela sensação ruim no peito por toda a noite. Poderia dizer com toda convicção que ela foi a pessoa que mais amei na vida, e não sei nem se amaria outra pessoa da mesma forma.  Mas uma coisa não dava pra negar: nosso amor foi real.

Voltei pra casa dois dias depois, não quis conversar com ninguém sobre o que tinha acontecido no quarto. Ainda não conseguia engolir toda a história, e meu coração ainda doía com a sensação de que agora ela não era mais minha. Agora era só saudade, saudade da gente, saudade dos beijos...

Peguei meu violão e comecei a cantar uma música como se isso curasse tudo que eu sentia:

Hoje você poderia ser pra mim, 
Tudo o que eu nem pudesse imaginar
O ar que eu respiro pra sobreviver
O calor do sol que vem pra me aquecer
Eu já tentei por várias vezes impedir
Mas por te amar deixei você partir 
Tudo bem se você não quiser voltar
São consequências que eu tenho que aceitar
Como eu queria que estivesse aqui,
Pra fazer o nosso sonho ser verdade,
De tudo que você pudesse ser pra mim.
Escolheu apenas ser saudade.
Como eu queria que estivesse aqui,
Pra fazer o nosso sonho ser verdade,
De tudo que você pudesse ser pra mim.
Escolheu apenas ser saudade...

Parei de tocar quando Bruna entrou no quarto e se sentou do meu lado. Como se me decifrasse ela perguntou se estava tudo bem.

-A Ana não te contou?- perguntei e ela negou - Nós terminamos.

-Jura? Mas por quê?

-Ela disse que é por que não tínhamos tempo, mas eu sei que não é por isso, é por causa do pai dela. Eles não estavam muito bem, aí veio esse acidente que deixou ele sem conseguir se movimentar direito e para agradá-lo ela terminou comigo.

-Mas isso não é justo, pi.

-Eu sei que não, mas agora já foi.

-E você vai deixar isso assim? Não vai atrás dela?

-É a escolha dela, eu vou respeitar.

-Eu te ouvi tocando e percebi que não estava bem- me abraçou de lado- Você sabe que pode contar comigo né?- assenti e ela passou a mão no meu rosto - Não quero te ver mau.

-Ainda é muito recente, e vou confessar, tá difícil controlar essa dor aqui sabe?- falei com a mão no peito - Eu amo ela de verdade.

-Eu sei pi- ela me ouvia atentamente.

-Mas tudo bem, vai passar- falei tentando me convencer daquilo- Apesar de tudo, ela sempre fará parte da minha vida, o pouco tempo que passei ao lado dela serão sempre lembrados. Eu sei que nosso amor foi sincero, e vai ficar pra sempre na minha memória.

-O namoro pode ter acabado, mas ainda podem ser amigos não é?

-Sim, mas vou dar um tempo, não deve tá sendo fácil pra ela também.

-Com certeza não, eu conheço a Ana e sei como ela ama você.

-Eu sei que sim, mas chega de se lamentar- coloquei o violão do lado.

-Chega mesmo. Que tal comer aquela pizza de peixe que mamãe faz? Acabou de sair do forno - ela fechou os olhos e "cheirou" o ar- Tá sentindo esse cheirinho?- fiz o mesmo que ela e assenti - Parece estar uma delícia não é? Vamos?- ela esticou a mão pra mim e eu segurei indo com ela até a cozinha.

Comi a pizza tentando não pensar em nada, mas não era fácil, e eu tinha a impressão que nunca seria. Mas nossa história estaria pra sempre na nossa memória, e pra mim, seria uma marca eterna. Jamais me esqueceria de como me sentia EU do lado dela. Talvez não fosse o fim pra gente não é? O mundo gira e poderia ser que nos colocasse juntos novamente. Contando que isso aconteça, eu não ligaria de esperar por mais uns 10, 20, 30 anos...


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