10 de julho de 2015

Epílogo ( Escolha 1 )

Luan Rafael

Minha cabeça girava e eu não conseguia pensar em nada, meu corpo foi tomado por uma sensação ruim e por mais que eu rezasse muito em pensamento tinha medo de que o pior acontecesse. As horas, os minutos, os segundos se passavam vagarosamente e a angústia só aumentava. Quando vi que o médico se aproximando senti um calafrio até a espinha e embora esperasse por respostas, no fundo tinha medo delas:

-Sua esposa teve uma hemorragia. Conseguimos reverter a situação, mas ela tá respirando com ajuda de aparelhos - uma mistura de sentimentos me invadiu, primeiro feliz por ela estar viva, mas ao mesmo tempo me desesperei por saber que ela ainda corria riscos.

-Ela vai ficar bem não vai? - perguntei com o coração apertado, ela tinha que ficar bem.

-Vamos torcer pra que sim.

Nada daquilo fazia sentido pra mim, do que valia Luana sem a Ana? Do que valia o meu casamento sem Ana? Minha mãe me abraçou tentando me acalmar. Do outro lado, dona Maria chorava abraçado ao seu Jonas.

-Vamos ver sua filha? - minha mãe perguntou e eu a encarei sem saber o que falar.

-Não, eu quero ver minha mulher.- falei levantando e indo a procura do médico.

Não permitiram que eu a visse mas eu não desisti, chorei e implorei que eles deixassem eu a ver ao menos de longe e eles deixaram. Entrei na sala e caí em prantos, queria vê-la alegre, sorrindo com aqueles dentes perfeitos que ela tinha, e não em uma cama, desacordada, respirando com ajuda de aparelhos.

-Vamos, você não pode ficar aqui muito tempo.

-Mas eu acabei de entrar.

-Você não pode ficar aqui - o médico falou e eu tive que saí. - Agora não tem muito o que fazer, temos que esperar ela acordar.

-Eu tenho que ficar com ela.

-Infelizmente não vai ser possível.

Minha mãe acabou me convencendo a ir embora, mas aquela seria a pior noite da minha vida, ou melhor, a primeira das piores, porque sabe Deus quando Ana acordaria, e pior, se ela acordaria. Mas eu não podia pensar no pior, eu jamais conseguiria viver sem ela, ainda mais cuidando de uma criança, que a propósito eu não tinha visto depois de tudo.

Dois dias depois, ainda preso dentro de casa, escuto o telefone tocando e corro com a esperança de ser uma notícia boa:

-Filho, estamos indo buscar Luana, vem com a gente.

Engoli em seco, apesar de ela não ter culpa, eu não queria vê-la. Me lembrar de todo desespero que passei na sala de parto não me parecia a melhor opção.

-Não vou mãe, mas será que pode ver com o doutor se posso visitar a Ana. Isso não é justo, eu não posso ficar sem vê-la.

Minha mãe não disse nada, se despediu de mim e desligou. Sentei no sofá exausto e encarei minha foto do casamento com Ana, em cima da mesa redonda que ficava ao lado do sofá. Peguei-a nas mãos e passei os dedos na imagem como se pudesse tocá-la novo. Fechei os olhos e me lembrei dos acontecimentos contados na foto, o seu sorriso lindo. Sua felicidade estampada que eu tanto sentia falta.

Um tempo depois, ouvi a porta se abrir e olhei assustado pra ver quem era. Minha mãe entrava com minha filha no colo e atrás vinha Bruna e meu pai, meio tristes e felizes ao mesmo tempo pela nova integrante da família.

-Olha quem chegou - minha mãe veio pra mais perto e eu não sabia bem se queria a ver. Pra sincero não queria vê-la naquele momento. Pensava que ao receber sua vida, ela tivesse tirando a vida de outra, da minha mulher. Se não fosse pela bebê tudo seria diferente agora, estaríamos felizes, sorrindo, brincando como fazíamos. Talvez seja esse o motivo de ela não ter engravidado antes, mas a gente quis e insistiu, e agora Ana estava a beira da morte.

Eu sabia que estava errado pensando dessa forma, sabia que não era culpa dela, mas como acalmar meu próprio coração? Como conviver com o medo de perder o amor da minha vida?

-Tira ela daqui - falei nervoso e subi pro quarto deixando meus pais me olhando com uma cara mista entre preocupação e tristeza.

Subi pro nosso quarto e abri o nosso guarda-roupa. Suas roupas ainda estavam ali arrumadinhas como ela sempre fez questão de deixar. Peguei uma a uma e tentava lembrar de quando tinha visto Ana usando-as. Algumas delas ela sequer tinha usado, porém eu imaginava como ficaria em seu corpo perfeito.

Passei horas fazendo isso, e só me dei conta quando a porta do quarto se abriu e eu tive que encarar o pai dela ali, na minha frente. Me olhou com pena e começou a chorar sem termos trocado uma só palavra. O olhei sem saber o que fazer e sentei na cama tentando não chorar.

-Você já viu a Luana?- ele perguntou sentando na cama - Digo, agora?- assenti e respirei fundo, aquele nome trouxe de volta todos os sentimentos ruins - Ela se parece muito com Ana, não acha? - virei o rosto para o lado, eu não queria ouvir nada em relação aquela criança. - Ela é linda - ele continuou tentando forçar alguma palavra minha.

-Sinto muito, não quero falar sobre Luana - falei o encarando.

-Ela não tem culpa.

-Eu sei, mas não consigo. Ainda não.

-Ana está viva Luan, e nada de ruim vai acontecer com ela. Acha que ela vai gostar de saber que você virou as costas pra própria filha?

-Eu não posso, eu não sei cuidar nem de mim direito.

-Se não faz por você, então faça por sua esposa. Cuida da Luana pra quando Ana sair do hospital ver que você cumpriu direitinho sua missão.

-Você não entende - disse voltando a chorar - Eu não consigo. Eu sei que Ana espera mais de mim, mas eu não consigo cuidar de uma criança sozinho.

-Como pode dizer isso sem sequer tentar ? Se esforce Luan, ela é a sua filha! - seu Jonas falou se levantando e colocando a mão em meu ombro -É maravilhoso ser pai - ele sorriu emocionado - Cuida da sua filha, nunca se sabe o dia de amanhã...

Quatro meses depois...

Foram quatro meses agonizantes, sem nenhum resposta positiva. Felizmente eu podia ir no hospital 4 vezes por semana, depois que a transferiram para um quarto, que eu enxia de rosas para quando ela acordasse. Meus fãs faziam campanhas de oração, e entendiam o meu afastamento dos palcos. Além disso,  foram 4 meses sem ver minha filha, minha própria filha, porque eu simplesmente ainda não conseguia.

Minha mãe me visitava todo dia, cuidava pra que eu comesse e como mãe, ela não falhava nisso, só saia depois de ver que eu tinha comido tudo que ela preparara. Sempre trazia uma novidade nova de Luana, que ela chorava muito devido as cólicas e que a cada dia, trazia mais traços de Ana em sua feição. Além disso disse que ela já ficava sentada e que estava cada vez mais gordinha. Eu sorria mesmo sem querer saber daquelas notícias.

De repente meu celular tocou, era o médico. Senti meu coração bater forte:

-Luan? Poderia vir ao hospital?

-Alguma notícia, doutor?

-Infelizmente não, mas preciso te falar algumas coisas.

Peguei a chave do carro e em minutos cheguei ao hospital. Me levaram até a sala do médico Gustavo e pela sua cara, o que eu escutaria não era nada bom.

-Luan, já se passaram 4 meses, ela não responde, está vivendo a base dos aparelhos mas achamos que ela não vai acordar mais. - falou e eu imediatamente comecei a chorar, negando tudo que ele falava - Poucas sobrevivem uma hemorragia, ela tá resistindo mas provavelmente não vai resistir tanto. Queríamos seu consentimento para desligar os aparelhos.

- VOCÊ ESTÁ FICANDO LOUCO? EU NÃO VOU CONSENTIR NADA. EU PAGO O PLANO DE SAÚDE DELA E VOCÊS NÃO VÃO DESLIGAR APARELHO NENHUM.

-Se acalma Luan, você tem que aceitar que a vida acaba para todos um dia.

-EU NÃO TENHO QUE ACEITAR. ELA NÃO ESTÁ MORTA.

-Mas vai ficar, não tem muita opção.

-Não, você não sabe o que está falando - levantei nervoso - ELA VAI FICAR BEM, NÃO É PRA DESLIGAR NADA TÁ OUVINDO? NADA - Falei desesperado e o doutor se levantou.

-Tudo bem Luan, tudo bem.

Saí dali inconformado com aquela proposta. Mas eu não desistiria da Ana tão fácil, e nenhum médico me convenceria do contrário. Ela ia sobreviver sim, e seríamos felizes pra sempre!

Sem saber que rumo tomar, peguei o carro e fui em direção a casa dos meus pais. Minha mãe abriu a porta assustada, não esperava me ver ali. Abracei ela chorando.

-O que foi meu filho?

-Eu não quero falar nada, só precisava da senhora.

-Vem querido, entra. - ela segurou meu braço e me levou até o sofá.

-Mãe, você acha que a Ana vai sobreviver? - perguntei aflito, sentindo um nó apertar minha garganta.

-Claro que sim meu filho, com fé em Deus ela vai sair dessa e vai cuidar da Luana com você - disse passando a mão em meu rosto. - Maria te ligou?

-Ligou ontem, disse que os avós de Ana querem vir vê-la

-E o que você falou?

-Eu falei que podiam, Ana ama aqueles avós dela - sorri limpando minhas lágrimas.

-Você sempre se esforçou pra agradá-la né, querido?

-Eu a amo muito mãe - falei voltando a chorar e minha mãe me abraçou.

Enquanto ela alisava minhas costas ouvi Luana começar a chorar, me afastei da minha mãe assustado e ela me soltou rindo.

-Acho que ela tá com fome - ela se levantou indo até a cozinha.

Foi então que analisei toda a situação. Eu tinha uma filha, e ela precisava de um pai, um pai que esteve ausente por 4 meses, que perdeu muitos momentos dela. Imagina o quanto Ana ficaria chateado comigo quando acordasse. Seu Jonas tinha mesmo razão.

-Onde está Luana? - perguntei assim que minha mãe voltou pra sala.

-Está no quarto dela.

-Será que eu posso levar isso? - perguntei apontando para a mamadeira que ela segurava na mão.

-Mas é claro meu filho - ela me entregou a mamadeira sorrindo.

Subi a escada com um receio, não sei se estava preparado pra encarar minha filha. Não sei como reagiria. Não sei se já estava disposto a encarar ela com um outro olhar. Não sei como pediria desculpas por tê-la deixado sozinha.

-Você vai ver como ela está a cara da Ana - minha mãe falou sorrindo abrindo a porta em seguida- Vou deixar vocês a sós.

Entrei no quarto e minha mãe fechou a porta atrás de mim. Coloquei a mamadeira em cima da escrivaninha e me aproximei do berço a vendo sentadinha, brincando com os próprios pés.

Luana olhou pra mim assim que me aproximei do berço ainda receoso e sorriu me quebrando inteiro. Automaticamente eu sorri também.



Uma sensação diferente tomou conta do meu corpo, eu sentia como se meu peito fosse preenchido por uma alegria nova. Nunca imaginei que um sorriso tão angelical mudaria tudo que eu sentia, tiraria aquela dor que eu ainda tinha, e me traria aquela paz sem igual. 4 meses tinham se passado e minha filha já estava maiorzinha, mais gordinha e como minha mãe disse, era a cara da Ana, ou mais, ela era a Ana purinha. Passei o dedo delicadamente em seu rostinho e ela agarrou meu dedo sorrindo pra mim de novo. Foi então que eu senti que eu podia ser melhor. Parei de ver Luana como um problema, e a vi como uma solução, uma alegria, uma esperança.

-Vem cá no papai - falei com ela esticando os braços - Não deve ser tão difícil pegar uma criança - falei praticamente sozinho e a peguei no colo com um receio enorme - Como você é molinha filha- deitei ela nos meus braços com todo cuidado do mundo - É, pois é, eu sou seu pai- falei brincando com sua mãozinha pequena - Me desculpa por ter virado as costas pra você. Eu não  conseguia no começo.- ela me olhava como se entendesse cada palavra - Mas agora vai ser diferente viu? Você vai pra casa comigo esperar a mamãe, que logo logo vai sair daquele hospital - já estava chorando mas não secava meu rosto com medo de deixa-la cair - E por falar na sua mãe, ela vai pirar quando ver que você puxou ela. Minhas fãs também, estão loucas pra ver seu rostinho - sorri alisando seu rosto.

Foram minutos, rápidos minutos que me fizeram a amar incondicionalmente. Foi ali, conversando com ela que pude entender o que é ser um pai de verdade, e acredito que eu fui. Beijei sua testinha e outra vez ela sorriu, ganhando mais meu coração.

-Luaan - minha mãe abriu a porta com pressa, estava com os olhos lacrimejados e me assustou com sua expressão. - O MÉDICO TÁ NO TELEFONE, PARECE QUE A ANA ACORDOU!

Entreguei Luana pra minha mãe e desci as escadas correndo pegando o telefone tremendo.

-É verdade isso, doutor? Ela acordou? - perguntei já emocionado.

-É verdade, e me desculpa por ter falado pra desligarmos o aparelho, você estava certo.

-EU.. EU TÔ INDO PRAÍ AGORA.

Peguei a chave do carro e voei até o hospital, agora sentia meu coração mais livre, com mais esperança. Eu sabia que ela ficaria bem, eu sabia que tudo daria certo.

Cheguei no hospital e me levaram direito pro quarto dela, que abriu um sorriso enorme assim que me viu entrando. Ajoelhei-me do lado da sua cama e beijei sua mão um monte de vezes. Ela alisou meu rosto sorrindo e eu comecei a chorar.

- Eu te amo, sabia? Eu te amo muito. - falei e ela sorriu assentindo.

-Eu também amo você!

A porta do quarto se abriu, e a minha sogra entrou com Luana no colo. Ana começou a chorar muito e eu acabei chorando também. Felizmente agora, nossas lágrimas eram de felicidade, de recomeço.

Minha esposa recebeu alta dias depois, estava tão bem que todos duvidaram que um dia ela esteve em coma. Minhas fãs fizeram uma linda homenagem na porta do hospital, o que fez ela chorar bastante. Luana também estava bem apegada a mãe, e apesar de novo, começou a mamar no peito e já nem olhava mais pra mamadeira.

O tempo passou e as coisas voltaram ao eixo depois daquele desvio de curva. Ana estava bem, saudável e feliz. Eu tinha voltado a fazer shows mas sempre fazia questão de voltar pra casa, fosse a hora que fosse pra aproveitar cada minuto que tinha com minha família. E então, o tempo se tornou precioso, depois de um grande susto a gente enxerga coisas que muitas vezes não se vêem. Mas o nosso amor se fortaleceu, e renasceu, como flor na primavera.  E agora, vendo ela com minha filha no colo, cantando baixinho pra que ela durma, tenho certeza que ela vai cumprir a promessa que me fez várias vezes, de que seria só minha, e que seria pra sempre!



Clique AQUI pra voltar pra fanfic e deixe seu comentário sobre o final que você escolheu. Os agradecimentos e a surpresa prometida serão postadas amanhã!